Boas e más notícias a respeito do ofício de ensinar a ver beleza
Desisti há um bom tempo da ingrata tarefa de definir a poesia. Não sei se é música feita com idéias, como queria Ricardo Reis, se é pura liberdade ou a matemática da emoção, como a entenderam outros, ou ainda um fugidio estado de espírito que se tenta fixar em palavras. Isso não é importante. Melhor do que definir a poesia é experimentá-la.
Presume-se que a escola, em especial a universidade, existe para, entre outras coisas, ajudar os interessados a experimentar a poesia. Quando assumi o risco de me colocar diante de um grupo de pessoas dispostas a me ouvir falar e a ler o que rabisco no quadro negro, era esse papel que eu tinha em mente desempenhar.
Agora, anos depois, tenho dúvidas quanto a esse papel. Estou convencido de que se pode falar a respeito de autores e livros, mas não se pode ensinar a experiência da poesia. A má notícia é que, se alguém precisa da crítica acadêmica para experimentar a poesia, provavelmente não a experimentará. A crítica pode desmontar brinquedos feitos de palavras, mas não pode brincar com eles, muito menos ensinar a brincar.
A boa notícia é que, à revelia dos professores e da academia, tão ciosos de sua autoridade e de seu autoconcedido papel de condutores da sensibilidade alheia, a poesia vem florescendo, dentro e fora dos livros, cultivada por corações e mentes que muitas vezes não têm diplomas, mas têm sensibilidade. E, pelo que me consta, continua a demonstrar um lírico desdém pelos professores e críticos que preferem classificar palavras a sonhar com elas.
6 comentários:
Olha, poesia é o que academia não consegue ensinar...Ensina-se métrica, ensina-se escola, ensina-se estilo...Mas poesia é tão mais...Tempos atrás encontrei o primeiro livre de poesias que ganhei, aos 8 anos e entendi muita coisa do que sou hoje, do meu lirismo, do meu idelismo...Meus pais tinham bem essa noção de que a literatura abre a mente, mesmo que, na infâcia, eu lesse as poesias e fizesse apenas desenhos para representar minha interpretação...Poesia se aprende, mas não se ensina....Abraço.
Ah, o livrinho era Lili inventa o Mundo, do Mário Quintana, de quem, mais velha, virei fã incondicional e sou até hoje...
concordo com a Luciana.
mas tenho cá certas impressões que me foram, inclusive, confirmadas por uma cara amiga que, a seu exemplo, Professor, também cursou letras e escreve excepcionalmente bem. essa moça, à época pós-graduanda, apresentou ao professor, renomado crítico literário, um livro que pretendia publicar, como de fato publicou, anos depois. foi massacrada. e não fosse sua determinação, teria desistido ali. não desistiu, para felicidade daqueles que tiveram a honra de ler seu livro. então, penso eu que pior do que não ensinar é desestimular a tentativa de aprender. você, eu sei, não é assim, mas muitos são, especialmente aqueles que sucumbem à fogueira de vaidades existente no meio. se o talento existe e é necessário, ele só pode se desenvolver com boa vontade, esforço e estímulo.
em contrapartida, para quem não quer aprender, não há santo que ajude, quanto mais um professor dedicado.
poesia é experimentação de quem aprende e de quem ensina, pois não há como negar suas diversas faces e a maneira como a lemos aos 20, 30ou 40 anos.
e eu devo ter escrito um monte de besteira. é o adiantado da hora. releve, por favor... hehehe *;)
um beijo.
Eu acho que poesia é como marca de nascença. Eu disse isso alguns dias atrás. Não adianta saber as regras. Existe algo mais que nem todos conseguem alcançar.
...A poesia para mim é assim como a solidão - uma criança estigmata .
Nas mãos, suas chagas...
E as chagas nas mãos de quem escreve, são marcas que sangram por toda vida.
Escrever dói. Tu sabes bem.
Saudades sua.
Bjs.
Mai
Estás bem?
publiquei este seu texto em viver e sentir, fiz um comentario... é exactamente o que penso
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