Farei 40 anos dentro de dois dias. Pelos sinais no
meu corpo — os cabelos já razoavelmente grisalhos sendo os mais visíveis, mas
não os únicos —, posso sentir em mim mesmo, enfim, o início daquele ponto que, ao cabo, leva todos nós à decadência física e mental e, por fim, à extinção.
No entanto, se Nietzsche estava certo em sua
recomendação — para conservar-se jovem, é
preciso que a alma não descanse, que a alma não peça a paz —, tenho razões
de sobra para considerar-me, psicologicamente pelo menos, no meio da estrada da existência. Dúvidas aos montes e incertezas na mesma
proporção não têm permitido, de modo nenhum, que a minha alma descanse.
E, se a velhice acaso for a constatação de que
as contradições foram resolvidas em favor de um acordo de paz interna, com todas ou quase todas as inquietações afastadas, sinto
que ainda estou longe dela. Prossigo na luta de ideias e, até segunda ordem, continuo no caminho, ainda que a velocidade de resolução dos meus dilemas não seja sempre a que eu esperava. Mas que me importa a rapidez? Alguém muito mais sábio que eu já disse que a graça do caminho está mesmo é no caminhar, tanto quanto o grande prazer da festa se encontra em prepará-la.
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