domingo, 19 de setembro de 2010

Contra a ilustrada burrice

O pouco tempo de leitura que me resta atualmente entre uma atividade e outra foi a melhor coisa que poderia ter ocorrido à minha vida intelectual. Obrigado a escolher bem aquilo que vou ler, seja uma bula de medicamento ou um romance, sob pena de não ser capaz de concluir a leitura, adotei o critério de ler apenas aquilo que, à primeira vista, pode me transformar de algum modo para melhor. Eu sei bem que só podemos dizer que um texto não é bom para um determinado propósito depois de o termos submetido a análise, o que exige sua leitura por inteiro. Acredito, entretanto, que há uma quantidade razoável de vezes em que capa e título não mentem sobre o conteúdo da leitura, o que já ajuda a separar o que é adequado daquilo que não é. De qualquer modo, a seleção de leituras pelo critério da sua capacidade de me transformar está me ajudando a escapar do risco — no meu caso, mais comum do que eu gostaria — de emburrecer aos poucos pelo excesso de leituras não refletidas. Desconfio de mim mesmo quando termino de ler um texto que acumula informação sobre informação sem que eu consiga apontar em que parte do meu pensamento essa pilha de dados vai fazer, afinal de contas, alguma diferença para me ajudar a pensar e sentir de um modo diferente.

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