Se não me engano, estou sofrendo da recaída de um mal já conhecido. À falta de melhor nome, chamo-o de Síndrome do Fim da Tarde de Sábado. Os sintomas são sempre os mesmos: depois de passar os cinco dias úteis da semana em tripla jornada de trabalho — alternando o tempo entre a rádio, o jornal e a escola —, eis que chega o temível momento. Tendo dado a última aula da semana, já sem programas por apresentar, sem contas a conferir ou reuniões a fazer, e sem a reconfortante perspectiva de segunda-feira que o domingo traz, volto para casa com a sensação de que o mundo ficou subitamente desacelerado e grande. Penso em falar com meus filhos no litoral, mas descarto a ideia ao me lembrar de que existem momentos mais adequados para isso. Afinal, o sábado à tarde, para quem tem menos de 20 anos, é sinônimo de diversão e não de conversas telefônicas. Pelo mesmo motivo, deixo de incomodar amigos que estão, por certo, reunidos em uma mesa de bar e, claro, ocupados demais para manter conversas extemporâneas. E eu, que em criança achava bonito ver pessoas resolutas, daquele tipo que aparece nos filmes com um ar de quem nunca perde tempo com reflexões e sabe sempre o que quer, acabo me tornando presa da incômoda mania de me sentar em silêncio diante da janela. Olhando a vida pela vidraça, com o corpo descansando da semana que termina, volto à velha e incontornável pergunta: qual é, afinal, o sentido possível de construir para estes dias e noites que se sucedem há 37 anos? Eis a questão.
sábado, 17 de abril de 2010
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1 comentários:
É desacostumamos de nós ou cansados da solidão, nos acostumamos com a correria dominante dos relógios.
É verdade, já li algo assim tempos atrás.
beijos, amigo
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