domingo, 4 de abril de 2010

O Reino das Crianças

O Livro de Tiago contém — salvo melhor juízo, em seu capítulo quarto — um dos trechos que mais admiro na doutrina católica, aquele que trata do pecado da omissão. O apóstolo o explica como sendo a falha daquele que, sabendo fazer o bem, não o faz. Admiro essa ideia porque ela introduz a possibilidade, cuja importância me parece capital, tanto para a esfera privada quanto para a política e econômica, de responsabilizar aqueles que, dispondo de meios, recusam-se a amparar os que estão à sua volta necessitados de amparo. Na minha visão de mundo, a simples ideia de que se pode falhar por omissão, algo bem mais complexo e difícil de mensurar do que falhar por agir de modo errado, ajuda a tornar o mundo mais responsável e, quem sabe, menos pior. Pois foi a essa bela ideia que o Papa Bento XVI virou as costas no sermão que fez ontem em Roma, por ocasião da Semana Santa. Ao pedir mudanças em várias partes e áreas do mundo — adentrando inclusive em questões específicas — e deixar de mencionar a gravíssima ferida das acusações de pedofilia que vêm de dentro da Igreja e estão em evidência na atualidade, ele incorreu, a meu ver, em grosseira omissão, que se torna tanto mais saliente, quanto mais se leva em conta que foi perpetrada por um teólogo que se notabilizou pela capacidade de articular as Escrituras com os fatos do mundo. O silêncio do Sumo Pontífice em assunto tão grave e palpitante deu-me a impressão de que não anda tão valorizado pela cúpula da Igreja de Roma quanto eu desejava o dito bíblico que faz uma tocante valorização da infância ao dizer que o Reino é, antes de mais nada, um lugar destinado àqueles que conservam o coração de criança.

2 comentários:

Denise Portes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Denise Portes disse...

Márcio
Concordo com você.
Gostei muito de conhecer seu blog, quero te convidar para visitar o meu: www.odeliriodabruxa.blogspot.com
Um abraço
Denise