Contra todos os prognósticos, eu e meus óculos de grau estamos nos dando bem. Já se vão uns cinco meses de convivência pacífica, com apenas um ou outro percalço sem maiores consequências para a relação, como na ocasião em que, tendo me esquecido de que os tinha no rosto, passei dez irritados minutos a procurá-los em meu escritório, até que minha secretária, com um sorriso, teve a bondade de me dizer onde eles estavam. Esse bom relacionamento surpreende até a mim, que resisti, o máximo possível, a botá-los no rosto e nunca aceitei sequer usar lentes escuras para proteger-me dos raios solares. O pavor é antigo. Vem dos meus primeiros anos de escola, quando eu via colegas de óculos e pensava, já nem sei mais por que razão, que, se tivesse de usá-los, eles acabariam fazendo-me mal, pois, ainda que me aproximassem das coisas, iriam dar a tudo o que eu visse um mesmo padrão ou ângulo de visão, por mais cristalinas que fossem as lentes. O desconforto de usar no rosto uma armação de resina e vidro enfim desapareceu. Mas o medo de ver tudo segundo uma mesma ótica continua a me aterrorizar.
domingo, 4 de abril de 2010
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