segunda-feira, 5 de abril de 2010

Dia de outono em Minas

Para saudar a manhã,
Um canário ensaia sua ária no telhado vizinho.
Na placidez da tarde, usando o branco e o cinza,
As nuvens pintam abstrações no imenso fundo azul.
Mais tarde, quando o Sol vai descansar,
E a temperatura desce como cortina,
Um punhado de estrelas tremeluzentes
Prepara-se para mostrar à plateia
O lirismo da arquitetura celeste.
Na noite alta, que começa a ficar úmida,
O vento e as árvores de troncos grossos,
Recobertos por mosaicos em alto relevo,
Apresentam sua rapsódia em vários movimentos.
Finalizado o concerto,
O céu, em monólogo dramático,
Despeja um discurso contra o esquecimento
A que foram relegada as coisas do alto.
Na quietude branca da cozinha,
Com janelas abertas para o ontem e o hoje,
O vinho tem sabor de poema
E convida a pensar nas coisas do mundo
Transpostas em palavras.
Literatura, enfim,
Talvez não seja nada mais do que o simplório,
Mas absolutamente imprescindível,
Exercício de encantar o cotidiano.

1 comentários:

Sueli Maia (Mai) disse...

Em Minas ou aqui, ouvir um canário em opereta em um dia de outono, merece um daqueles vinhos.
Belo texto!

Márcio, já te falei muitas vezes: como respiras bem!
saudades d'ocê.

P.S.
Era tenor?