La passionata

Estou fazendo uma lista das paixões que julgo indispensáveis à minha vida. A boa notícia é que a lista vai progredindo rápido. A ruim é que não há a menor perspectiva de eu vir a concluir algum dia a listagem, pois minhas paixões se multiplicam dia a dia. Antes de eu terminar uma sequência da enumeração, novos itens já reclamam seu lugar. A culpa é do meu coração, que tem o hábito — um tanto arriscado, reconheço — de estar sempre de portas abertas para novas afeições sem tirar do lugar as antigas. O resultado é um acúmulo de paixões. Num mesmo espaço estão as velhas e as novas, de modo que essas me lembram aquelas, e vice-versa. Ultimamente, estou apaixonado pelo som que a aragem noturna faz em duas grandes árvores que ficam no fundo do meu quintal. Isso me remete aos sons que o vento faz no descampado, uma forte paixão quem vem dos tempos em que eu morava na fazenda de meus avós. Alguns poderão dizer que as antigas fixações, justamente por serem antigas, já não são paixões e sim amores, o que sugere, nas entrelinhas, a ideia de que paixões não duram. É uma questão de perspectiva. Há quem veja paixões duradouras como amores. Eu prefiro ver amores como paixões que renascem a cada manhã.