A companhia para o fim desta noite de sábado não poderia ter sido melhor escolhida: uma garrafa de um tinto Herdade de São Miguel Reserva, safra de 2006, com o sabor inconfundível dos vinhos regionais do Alentejo. Em profunda comunhão espiritual, fomos, eu e a taça, para a beira da piscina.
Depois de alguns minutos sentado em silêncio, fui recompensado com a possibilidade de entrar suavemente em Estado de Alerta Lírico. É nesses momentos abençoados que ouço a música que a aragem toca nas folhas das árvores, aspiro o aroma elegante da noite e me deleito com o vôo introspectivo dos pássaros noturnos. E é neles que me torno capaz de perceber, profundamente comovido, a grandiosidade das pequeninas estrelas que tremeluzem na distância infinita e a eloquência poética do vento que sopra o cisco no chão.
Esse espetáculo de sentidos terminou há pouco, junto com a última taça. A noite de sábado cumpriu honradamente o seu papel e deixou no ar a esperança palpável de que a vida continuará a palpitar no domingo. Meu relógio, como um velho e metódico companheiro, avisa que a madrugada já vem se aproximando e me convida a fazer como Alberto Caeiro e lançar um último olhar amigo ao sossego das árvores antes de me deitar no escuro e, sem pensar em nada, sentir a vida correr por mim como um rio corre por seu leito.
2 comentários:
A combinação de um bom vinho aliado à contemplação da natureza, foi a alquimia perfeita pra inspiração de tão belo texto...
Helô
Riqueza e beleza nos sons do silêncio. Ouvir os anseios da alma e deixá-la cantar, voar, tremeluzir como as estrelas que - do passado - brilham aqui aos nossos olhos.
Você está poeta senhor professor escritor.
Bonito isto.
P.S.
Dormiu ou acordou com 'neosa', né?
Beijos e bom domingo.
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