Oficina literária: a solidão de criar

A escrita criativa que brota de dentro, como uma necessidade, cedo ou tarde coloca aquele que se dedica a ela numa espécie de paradoxo: ao mesmo tempo em que escreve para se comunicar com os outros, por conta da função comunicativa que em alguma medida está presente em todo texto, o autor descobre-se sozinho, por força da função inventiva que está na base de toda arte digna desse nome. Isso ocorre pelo fato de não se poder trilhar caminhos prontos no ato da criação. Tendo deixado para trás o conforto dos modelos e fórmulas estabelecidos, o autor se dá conta de que deve escolher o próprio itinerário e construir a própria estrada. Nesse momento, ele está só, irremediavelmente só.

A magia da literatura ocorre quando o produto dessa solidão, transformado em texto, é apropriado como tema de reflexão por outra pessoa, que realiza uma leitura criativa naquele momento igualmente solitário em que a obra fala à alma e interage com ela para ampliar seu horizonte e aprofundar seu chão. Nesses casos, a convencional interação entre emissor e receptor em torno da mensagem é insuficiente para explicar a mágica que se abriga sob o nome "literatura". O que existe em tais casos, mais do que um processo mecânico de transmissão e recepção de conteúdos, é um diálogo de solidões, que é, aliás, o máximo que escritor e leitor podem encontrar na literatura.