terça-feira, 7 de julho de 2009

A coerência é uma bolha de sabão em dia de vento forte

Até onde e quando vale a pena ser coerente? Essa foi a pergunta que fiz a mim mesmo nos últimos dias a propósito de um balanço das minhas crenças. O resultado me assustou. Há pouquíssimas coisas em que eu acreditava aos 26 anos nas quais continuo a acreditar agora, uma década depois. Em alguns casos, passei a defender o oposto daquilo que defendia antes. Curioso é que não me sinto mal com essa incoerência. Julgo que todas as vezes em que substituí uma idéia por seu contrário tive motivos suficientemente fortes para fazê-lo. Mais do que isso: estou convencido de que, na maioria das vezes, ser rigorosamente coerente a uma idéia enquanto o mundo gira e se modifica em torno dela é desastroso para a minha capacidade de me adaptar à realidade. Até porque a realidade, esse conceito vago e impreciso, nunca passou de uma leitura sempre temporária e parcial dos fatos, que varia conforme o lugar e o tempo de quem a faz. Nesse mundo de certezas que se desmancham e de apelo constante à transformação, a coerência excessiva é, quando muito, uma bolha de sabão num dia de vento.

2 comentários:

Letícia disse...

Márcio,

Mais uma vez você traz uma teoria que parece infantil, no entanto, faz todo o sentido. Mudar de ideia e pensar diferente a respeito de algo, ao meu ver, é prova de maturidade. Amadurecemos e vemos as coisas de forma diferente, mudamos nossa opinião... Não creio que seja prova de inconstância ou falta de opinião forte. Porque o mundo sofre mudanças e nós o acompanhamos e admito que seja realmente difícil de se adaptar à realidade. E por isso mudamos. Por isso enxergamos as coisas de forma diferente com o passar do tempo. Digo que, na verdade, essa bolha de sabão é a opinião daqueles que defendem demais uma verdade e não percebem que tudo é mutável. Nada é definitivo.

Seus textos são um presente para mim. Sempre que os leio, aprendo bastante.

CESAR CRUZ disse...

Caro Márcio,

Estou adorando essas suas crônicas (reflexões, enfim) curtas e que se fecham belamente. Incrível tua capacidade de síntese e, ao mesmo tempo, de abstração filosófica (que costuma ser longa).

Terei de voltar aqui... Pior, terei que acompanhar teu blogue.

abraços

Cesar Cruz
S.Paulo