quarta-feira, 22 de abril de 2009

A vida para além do asfalto

Um dia para lembrar que a Terra existe
Este Dia da Terra, que o calendário fixou em 22 de abril, já significou para mim coisas muito diferentes. Na infância, dividindo os dias entre a minha casa no interior e a fazenda de meus avós maternos, simplesmente não conseguia entender como a nossa morada planetária, algo tão natural, poderia ser celebrado.
Fixei-me em definitivo na cidade e aprendi, na escola, que a Terra era algo que precisava ser celebrado porque havia pessoas que cuidavam mal de sua morada, que é também a nossa morada, criando um risco para todos. Talvez por minha origem rural, eu, sabendo o quanto devia à Terra, continuei a achar aquilo desnecessário.
Mudei-me depois para a grade floresta de asfalto e concreto da capital e ingressei na rotina de dormir, comer, estudar e trabalhar em locais situados muitos metros acima da terra, uma terra, aliás, que eu nem chegava a pisar, pois, da porta do prédio à porta da escola e do trabalho, o chão nu só aparecia em canteiros.
Nessa rotina, conheci pessoas mais jovens que não teriam desenvolvido, sem a ajuda de livros ou programas de TV, a noção de que o leite não sai de máquinas e sim de vacas, de que a água não nasce nos canos e sim em nascentes e que verduras não são produzidas em linhas de montagem, mas plantadas num chão situado além dos aparentemente intermináveis horizontes urbanos.
Foi então que eu enfim compreendi o que me parece ser o sentido profundo dessa comemoração que se faz em 22 de abril. Foi sobretudo para essa gente nascida e criada nas metrópoles, que hoje é a esmagadora maioria dos habitantes do Planeta, que foi preciso instituir no calendário um dia para lembrar que existe vida para além do asfalto e do concreto.

1 comentários:

Luciana F. disse...

Nossa, Márcio, vc escreve tanto que mal consigo acompanhar. Hoje, tentarei colocar em dia a leitura de seu blog, o qual, confesso, me dá uma reanimada. Não é sempre que se vê gente escrevendo tão bem sobre as coisas simples da vida. Um dia chego lá! Abração!