segunda-feira, 27 de abril de 2009

Surrealismo cotidiano


Deja vu
A insônia, mal com que me debato desde a infância, transcendeu os limites do meu entendimento e chegou ao ápice do seu poder sobre mim. Na noite passada, num hábito já antigo, adormeci na poltrona, com as janelas da sala abertas e o vento noturno de abril entrando por elas e fazendo balançar as cortinas. Em sono profundo, sonhei que tinha insônia e lia sentado na poltrona para passar o tempo. Despertei pouco antes de o sol nascer, com os olhos ardendo e a sensação típica de quem ficou tempo demais acordado. Se não fosse o bastante, tive a sensação estranha de já ter passado por essa insônia representada em sonho. Durma-se com um surrealismo desses ...
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Embora me incomode a ardência nos olhos, minha queixa, no fundo, não pode ser levada a sério. Por justiça devo admitir que a insônia tem sido minha companheira mais fiel ao longo dos anos. No fundo, somos velhos amigos que fazem companhia um ao outro na tarefa de ver passar as horas da noite. Devo à insônia, aliás, o meu razoável conhecimento sobre a vigília. Depois de todos esses anos de convivência, aprendi que ficar acordado à noite é uma sensação que varia conforme a estação. As vigílias de outono, por exemplo, são quietas e sonhadoramente azuis.

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