terça-feira, 21 de abril de 2009

Exercício de Impressionismo nº 2

Na praça da matriz, em busca de pães
Existe religiosidade nas andorinhas que saem voando quando o relógio da Matriz bate 7 horas. Na manhã de abril, a travessia da praça quase vazia tem algo de peregrinação. E deve haver por certo uma oração sendo murmurada nos lábios do velho de boina que deixou o jornal do feriado no banco do jardim para olhar as pombas ciscando no gramado. Na padaria, o cheiro que vem do forno é como incenso, e a fila de espera é quase um encontro de romeiros. Quando o pão-de-queijo aparece milagrosamente multiplicado para saciar a fome de todos, dá-se uma epifania e surge a vontade de pedir ao sacristão que deixe um instante de tomar Sol na escadaria da igreja e suba à torre para fazer vibrar os sinos em repique de exultação.

2 comentários:

mariza lourenço disse...

para quem, como eu, acabou de comer pão-de-queijo, realmente dá vontade de fazer coro com o autor para pedir que se repiquem os sinos.
outro belo exercício.
parabéns.

Filipe Garcia disse...

E eu estava ali, na porta da matriz, comprando uma pipoca de saquinho pra jogar pros pombos. Aliás, mandei uma mensgem mental pro sacristão - vai lá tocar o sino, vai, tá na hora! - mas não sei se ele entendeu.

Seu texto me transportou. Me confortou. A descrição foi como um afago nessa terça-feriado. Vontade de paz, eu tive.

Abraços.