quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

O que você é capaz de fazer em 23 segundos?


Uma fantástica (e utilíssima) reflexão
para quem deseja aproveitar o tempo

Meu relógio está marcando agora meia-noite e 5 minutos. Como já cumprimentei a mim mesmo, desejando-me efusivos votos de feliz ano novo, e não há mais ninguém em casa para ser cumprimentado, vamos sem demora ao primeiro post de 2009. O caso é que estou vivendo um dilema atroz. Assim que dezembro iniciou, a mídia passsou a bombardear o mundo com a "fantástica" notícia de que 2008 teria, como teve, um segundo a mais. Ele foi introduzido pelos cientistas na contagem de tempo como um "acerto temporal", pois estudos revelaram que o movimento de rotação da Terra vem ficando mais lento, como se esta velha bola azul estivesse se cansando aos poucos de girar no vazio. No ano de 1820, por exemplo, o dia tinha 86.400 segundos. Depois disso, vem ficando mais longo, mais arrastado.
A solução da ciência para evitar que a contagem do tempo fique em defasagem se comparada à rotação, que é o fenômeno que a define, foi o acréscimo de um segundo, o que já foi feito 23 vezes desde 1972, ano em que nasci. Isso significa que, desde que vim ao mundo, ganhei da ciência 23 segundos adicionais de vida, com a perspectiva promissora de isso chegar a meio minuto. Entrando no espírito das notícias divulgadas a respeito, fiquei tão comovido com esse "fantástico" presente que decidi, por gratidão, fazer o melhor uso possível dele.
Nesse ponto surgiu-me o dilema. Afinal, o que eu faço com meus 23 segundos adicionais de vida? Inicialmente, pensei em pronunciar um discurso, mas o tempo é curto demais. Também me ocorreu dizer, diante de amigos, alguma frase solene como aquela que se atribui a Tiradentes em seu trajeto para a forca: "Dez vidas eu tivesse, dez vidas eu daria pela liberdade do Brasil". (Uma frase como essa dura uns 11 segundos e meio, o que me daria a possibilidade de dizê-la duas vezes, para evitar mal entendidos). Mas tenho dificuldade de escolher uma única frase que diga tudo o que eu quero. E a escolha pode me tomar bem mais de 23 minutos, o que seria o mesmo que perder mais de 10 vezes o tempo ganho.
Penso ainda em algo mais prático: utilizar esses 23 segundos para fazer aquilo que os psicanalistas chamam de catarse, ou seja, algo que libere energias e impulsos negativos. Pensei, por exemplo, em subir num palanque, no Dia da Cidade, e ler uma lista com os nomes de todos os conterrâneos que me aborrecem e mandá-los todos para aquele lugar maternal sempre lembrado em conversas calorosas. Mas seria melhor ter a certeza — dificílima de alcançar, eu admito — de que aqueles seriam meus últimos 23 segundos de vida, de modo que as consequências de meu ato, quaisquer que fossem, deixariam de me importar.
Eu poderia ainda ignorar essa "fantástica" bobagem e pensar que a mídia não deveria se ocupar tanto de semelhantes notícias enquanto há pessoas morrendo de fome, ecossistemas sendo devastados, guerras destruindo países etc. Nesse caso, porém, eu deixaria de usar bem o tempo adicional de vida que me foi generosamente dado pela ciência, o que me parece ecológica e politicamente incorreto, como todo desperdício. Estou de volta, portanto, ao dilema: o que, afinal, fazer com meus fantásticos 23 segundos adicionais? Eis a questão.

Em tempo (sem trocadilho): Enquanto não decido o que fazer com meus 23 segundos — sugestões a respeito são bem vindas — vou comprar um relógio novo. Como não uso modelos de pulso, que me criam embaraço para a digitação, costumo usar um daqueles de bolso. Estou tão feliz com meu tempo adicional de vida que vou tratar de arranjar um modelo bonito, de preferência daqueles dourados com tampa e corrente lustrosa.

2 comentários:

Juliana Dal Sasso Vilela de Andrade disse...

Belo texto, Márcio! haha
Então, respondendo a sua pergunta, sim, aquele é um caderninho meu...
não qualquer caderninho, porém!
faz parte da minha coleção de Moleskine, já ouviu falar?
vê só:
http://julianadalsasso.blogspot.com/2008/09/moleskine.html

feliz 2009!
um beijo,
Ju

Clea Pinheiro disse...

Eu tenho uma sugestão singela: inspire uma boa porção de ar e expire soltando uma grande risada! foi o que fiz ao ler seu texto. Além de informativo, pois eu desconhecia essa contagem - Super divertido!!!
obrigada.