terça-feira, 19 de junho de 2012

Ando em dificuldades todas as vezes em que, diante de um poema ou texto que trate dessa inefável e intangível ideia que é a felicidade, um aluno ou aluna me pergunta, com o ávido interesse dos aprendizes que têm alguma simpatia pelo mestre, se eu, afinal, sou feliz. Meu embaraço não é jogo de cena: constitui algo bem mais prosaico. E mais profundo. É que simplesmente não sei se se podem dizer felizes aqueles (creio haver outros além de mim) que mergulham nos dias e noites com uma inquietação branda, mas persistente, sem foco definido e sem origem rastreável, e convivem com um desespero profundo, mas felizmente momentâneo, ao perceber que têm menos certezas do que gostariam e mais perplexidades do que seria desejável para uma vida confortavelmente vivida sem sobressaltos. Não, eu não sei se sou feliz. Mas não me considero desafortunado por isso. Há de entender o que digo aquele ou aquela que, como eu, se sente vez por outra um estrangeiro na própria vida, espantando-se com tudo à sua volta, como se tivesse acabado de desembarcar num país distante e desconhecido.  

Imagem: Alfred Sieglitz

1 comentários:

Fernanda M. Mesquita disse...

Ola Marcio. Que bom ter voltado a escrever algo aqui. Espero que esteja a conseguir ultrapassar os momentos menos bons de saude. Por coincidencia eu tambem nao tenho atravessado uma fase muito boa nesse aspeto. Estive ineternada com uma certa gravidade e ainda estou a recuperar, Eu sei do que fala. Tambem eu, ao pensar que poderia estar a chegar ao fim pensei na vida mas nao tive medo. Por incrivel que pareca quandos os medicos me disseram que poderia ser algo muito grave nao tive medo. felizmente nao era o que eles pensavam mas tambem ainda nao sabem o que e´. A vida e´assim Marcio. Felicidade? Como ser feliz por completo quando sabemos que ha sempre alguem que nao o e`? E' claro que gostariamos de viver sempre mais algum tempo mas porque encarar o partir com medo? Eu apenas tento sorrir enquanto andar por aqui. Que contiue com coragem. Muitas pessoas vivem apenas com um rim.
Com amizade eu nunca esqueco as primeiras pessoas que conheci aqui. Voce foi uma delas e depois apenas uma meia duzia.
Se puder continue a escrever faz bem.
com amizade
Fernanda