terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Nota dissonante

Descobri que quase não consigo mais ouvir o Chico Buarque dos anos 60 e 70 da mesma forma como ouço nomes da MPB que vieram antes, como Noel Rosa e Dorival Caymmi, ou depois, como Jorge Ben e Kleiton & Kledir. Sem negar o invulgar talento que Chico demonstrou nas composições daqueles anos, várias delas situadas entre as mais bem realizadas que já ouvi na MPB, tenho a sensação de que elas ficaram presas demais ao padrão mental e ao gosto daquelas décadas para conseguirem ser ouvidas hoje de um modo que não seja sobretudo orientado pela curiosidade. Se as ouço, não consigo deixar de percebê-las como bonitas peças de museu ou documentos muito pitorescos de um período específico da história cultural brasileira. Nem diante de toda a beleza que contêm, e que não nego, consigo abstrair o carimbo de época, que me salta aos olhos e ouvidos. Idiosincrasia ou falta de embasamento estético? Talvez. Mas é, honestamente, o que sinto.

0 comentários: