domingo, 15 de agosto de 2010

Da série "Verdades encontradas no fundo da garrafa": centenas de quilômetros

A distância que me separa de meus filhos, que vivem atualmente no litoral, deu-me a certeza de que o amor, de tão sublime, é um sentimento que não precisa sequer de retribuição para surtir efeito. Basta que o sintamos para que ele faça a nós, que o sentimos, o mesmo bem que faria se tivéssemos a oportunidade de conviver diariamente com as pessoas a quem amamos. A imaginação, quando amorosamente inspirada, completa as lacunas que por ventura restem, e a casa vazia se enche de lembranças que dançam e pulam e correm. O amor é assim inacreditavelmente nobre: enche o coração de quem o sente, ainda que centenas de quilômetros se interponham entre quem ama e quem é amado. A saudade, nessa perspectiva, não é nada de ruim. Pelo contrário, é uma espécie de certificado: ela nos dá a certeza de que o coração está vivo e pulsando. De lembranças também se vive.

(Escrito depois de meia garrafa de Dom Melchior, um dos melhores vinhos chilenos que tenho tido a oportunidade de saborear. Tinha razão Neruda ao elogiar a arte vinícola de seus conterrâneos)

2 comentários:

Anônimo disse...

Domingo nostálgico e nem por isso cinzento aos olhos de quem sabe ver... e com essa música as lembranças se completam.

Sempre bom te ler...

Fernanda Rocha Mesquita disse...

Neste momento tambem me encontro muito longe dos meus filhos... bem mais longe. mas como diz, o amor aos nossos filhos vence distancias, embora por vezes seja bem dificil. Nao sei partilhar a minha solidao, a saudade com um bom vinho porque nao aprecio, mas sei o que e' partilhar esses momentos com um bom cafe, do qual, confesso, sou um pouco dependente. Brindo ao amor pelos filhos ... mas eu com um cafe. (brinco)