Tenho uma fascinação pelos lobos. Acho que a herdei de meu avô, em cuja fazenda havia, nos meus tempos de criança, um lobo sendo criado como animal de casa. Desse contato inicial até as histórias sobre lobos contadas pela literatura e o cinema foi um passo rápido. Talvez se devam a essa fascinação as minhas expectativas demasiado elevadas em relação a Lobisomem (The Wolfman, 2010), o filme de Joe Johnston, com Benicio Del Toro e o sempre superior Anthony Hopkins. Um fã ardoroso de histórias góticas como eu não pode dizer, de modo algum, que o filme seja ruim. Mas saí de lá com a persistente impressão de que Tim Burton (pense-se, por exemplo, no soberbo A lenda do cavaleiro sem cabeça) teria explorado melhor a história. Como segunda opção, acho que Francis Ford Coppola (o clima gótico de seu Drácula, de Bram Stocker, de 1992, é genial) pode ser lembrado. Pensando bem, também se poderia lembrar de Nicholas Hytner, que provou ser capaz de lidar bem com reconstituições históricas e a construção de um clima convincente de mistério no ótimo As bruxas de Salém (The Crucible, 1996).
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Sherlock Homes é outra grande fixação da minha infãncia, ao ponto de eu ter pensado seriamente em me dedicar à criminologia. Li todos os livros originais de Sir Arthur Conan Doyle, assisti a todos os filmes disponíveis e colecionei todas as reportagens que encontrei a respeito do mais famoso detetive da literatura. Talvez por isso fosse grande demais a minha expectativa no momento em que entrei na sala de cinema para assistir a Sherlock Holmes (2009), de Guy Ritchie, com Robert Downey Jr. (por que ele?) no papel principal. Não fiquei decepcionado. O filme tem bons momentos, e a ideia geral de misturar elementos de várias das histórias originais de Conan Doyle é até inteligente. Mas penso ser compreensível que fãs dessas histórias como eu encontrem certa dificuldade em aceitar um Holmes repaginado que usa mais os músculos do que o cérebro. Nada contra a ação, que torna o filme interessante para um público mais jovem e menos afeito à leitura, mas preferiria mais respeito à ideia original dos livros. Não resisto a um palpite: Neil Burger poderia ter feito um bom trabalho de direção. Sua competência está mais do que provada desde O Ilusionista (The Ilusionist, 2006), que mantém, desde que foi lançado, o posto de meu filme de época predileto, seja pela bela reconstituição do século XIX, seja pelo bom gosto fotográfico, seja pelo ritmo impecável da narrativa e pela escolha de uma grande história, que mistura na dose certa a intriga política e a narrativa policial, ambas temperadas com doses de aventura e romance.
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