sexta-feira, 26 de março de 2010

A infinita novidade dos bosques familiares

Na história da minha vida de leitor há dois momentos distintos. Na infância e na adolescência, e em parte da vida adulta, devorei livros numa velocidade que foi, talvez, superior àquela que seria adequada para bem digeri-los. Agora, começo a pensar que uma meia dúzia dessas muitas obras me devorou, como se dessem, com essa inversão, uma resposta à minha gula. Walden ou A vida nos bosques, de Thoreau, engoliu-me, desconfio, para sempre. O mesmo posso dizer de As cidades e as serras, de Eça de Queiroz, e de O Guardador de Rebanhos, de Pessoa, para ficar só com alguns exemplos. Devorado por essas obras, volto a elas com frequência. Percorrendo-as, aprendo de novo a lição de que há prazer não só na novidade, como também na redescoberta. E me deleito nesse redescobrir, da mesma forma como o velho caminhante continua encontrando prazer em percorrer o bosque da infância, ciente de que em cada vez há um detalhe diferente a descobrir ou um sentido novo a dar à paisagem, que, por ser múltipla em significados, é também infinita.

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