sexta-feira, 12 de março de 2010

Desaprendizados

Minha experiência com o magistério tem seus altos e baixos. Um dos pontos mais preocupantes surge quando um jovem leitor ou uma jovem leitora pergunta, com a expressão de quem não está entendendo nada, o que, afinal, a poesia pode nos ensinar de útil para a vida prática e cotidiana. Há um contrasenso nessa pergunta. Por mais diferentes que sejam as teorias sobre a natureza da poesia, todos os teóricos que me parecem dignos de serem levados a sério na atualidade estão de acordo num ponto: se a poesia ensina alguma coisa, é que não devemos buscar utilidade, muito menos praticidade, em tudo. Faz parte do humano elevar-se em alguns momentos, por força da arte, acima das contingências do dia a dia. Perguntar pela utilidade da poesia é tão despropositado quanto indagar sobre a utilidade da beleza. Quem faz esse tipo de pergunta precisa desaprender as utilidades para compreender a fundo o que é belo.

5 comentários:

Fernanda Rocha Mesquita disse...

A poesia e' mesmo o elevar, fazer sobressair e ate' mesmo dar mais enfase a certos sentimentos e situacoes. E' uma necessidade de alguns seres humanos e ate' talvez o modo de partilhar anormalidades que dentro da "normalidade" da vida e das "coisas praticas e uteis", nao existe a coragem de dar voz, dificuldade para quem escreve e para aqueles que se revem e necessitam de ler poesia.

Fernanda Rocha Mesquita disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Fernanda Rocha Mesquita disse...

Gostei que tivesse exposto este assunto. Publiquei-o em Viver e Sentir. Bom fim de semana. Anulei o comentario anterior, porque me enganei. desculpe.

Beta disse...

muito bom, Márcio! Faz muito sentido. Estou em fase de produção de um artigo científico e estava em dúvida entre um tema que aparentemente tem aplicabilidade, utilidade, e outro que servirá "só" como para instigar novas reflexões... Acabo de me decidir pelo segundo!
beijos e boa semana.

Fernanda Rocha Mesquita disse...

Muitas vezes as perguntas despropositadas têm muito a ver com o crescimento, que neste caso pode ser estagnação, das raízes culturais. A poesia antes de ser gostada ,deve ser respeitada como uma forma de cultura e consequentemente vista como uma utilidade, que servirá sempre aqueles que vêem no sentimento, não é uma arte, mas sim a causa de muitas artes.
Obrigado pelo seu texto.
Eduardo.