A eloquência dos descampados

Escale as montanhas e sinta suas boas vibrações. A paz da natureza fluirá dentro de você assim como os raios do sol fluem por entre as árvores. Do vento, absorva o frescor, e da tempestade, a energia; e as preocupações murcharão como folhas no outono"
John Muir

Descobri hoje a primeira ocupação para a motocicleta que me dei de presente de natal. Aproveitando suas características, adaptadas a longos deslocamentos, vou transformá-la em veículo preferencial para os passeios à zona rural que pretendo fazer este ano nas tardes de sábado e manhãs de domingo. Além de ocupar meu tempo livre, esses passeios me permitirão realizar um antigo projeto: documentar em fotografia a paisagem campestre da região. Concebido sem compromisso ou a pretensão de ser levado a sério, esse trabalho de fotografia é antes de tudo um exercício de olhar estético. Meu inspirador é o norte-americano Ansel Adams (1902-1984), o homem que me ensinou a enxergar a grandiosidade dramática da natureza. Adams é uma admiração que cultivo desde os tempos da adolescência. Sua famosa sequência de fotos do Parque Nacional de Yosemite mostraram-me, pela primeira vez, a eloquência poderosa dos montes e descampados. Considero-o herdeiro espiritual e continuador de uma tradição antiga de paisagistas ocidentais que tem nos pintores Joseph Turner (1775-1881) e, sobretudo, Caspar Friedrich (1774-1840), seus grandes realizadores. As imagens acima, que estão entre as minhas prediletas, mostram o peculiaríssimo olhar de Adams sobre a natureza.