segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Navegar é Preciso: A lírica irrequieta de Leonardo B.

Abandona o teu silêncio,
As palavras que decoraste
E os grãos de terra fáceis de contemplar.

Os versos acima, uma bela exortação à originalidade, são extraídos de um dos posts de "A última estação de Ricardo S., de Leonardo B. A partir de Colmeal Velho, em Portugal, o autor dispara, em três blogues, sua verve poética, produto original de um liquidificador lírico em que se misturaram essências de Dylan Thomas, Robert Frost, Emily Dickinson e Pessoa, entre outros ingredientes não menos grandiosos. Gostei sobretudo da extraordinária capacidade de Leonardo B. de se apropriar liricamente da paisagem exterior para lhe dar um sentido interno. É poesia muito acima da média, ditada por uma notável inquietação existencial a um talento irrequieto, sob a supervisão de uma alma poderosamente lírica.

Parto do princípio que a neve verde das serras envenena os corações
Parto do princípio que a neve verde das serras envenena os corações
E a chuva horizontal dos ribeiros coloca na terra uma haste.
Desfeitos os equívocos dos dias e das nuvens
Corta-se das folhas das árvores o produto da esperança
O todo
Como se o temor fosse feito de papel e argila.
Húmidos os cabelos de terra,
Dedos de rosmaninho e alecrim
E ventre fecundo de imaginação.
Se o teu beijo for o sinal, o poema começa assim

***
Sinto o ar
Nesta praia que aparenta um deserto
De areia e mar, ao fundo.
Reconstruo o mecanismo das ondas,
O velho espírito das ondas.
Pergunto agora
As consequências do tratado que protege
As borboletas que navegam nas asas das gaivotas,
E todos os seus voos
Agrestes, que me fazem sentir o ar iodado.

***
A boa terra que me dá abrigo nesta hora constante
A boa terra que me dá abrigo nesta hora constante
Gira incessante, neste momento de sol
E noutro de noite escura.
Espero por um momento, antes de olhar de novo
A serra e verde que me dá a esperança,
No ar, o pássaro que dança,
No fogo, o riso que se perde
E logo no ar, a palavra, salto e rodopio
Posto que todas as letras desordenadas ganham sentido(sim!)
No fundo, este dia prova que nem tudo está perdido!

***
Nunca assisti ao nascimento de uma flor
Nunca assisti ao nascimento de uma flor
Sem a dor
De ser testemunha da sua morte

1 comentários:

Letícia disse...

Já estive lá e gostei bastante. Suas dicas sempre me agradam, Márcio.