No fundo, no fundo, como gostava de dizer um amigo de infância (infelizmente, ele nem por isso me dava a impressão de ser profundo...), eu sou bobo. E essa bobeira tem sido uma das melhores características que eu poderia ter adquirido nesta vida. Sendo bobo, eu tenho a valiosa liberdade de não dizer sempre coisas aproveitáveis. E me dou ao desfrute de ter alegrias por motivos que à maioria das pessoas parecerão... bobos. Ultimamente, comecei a sentir alegria pelas coisas que não sei. Nada tenho contra a curiosidade e o saber, que na minha opinião são das melhores coisas que existem. É só, digamos, uma interrupção pontual na ânsia de assimilar conteúdos.
A propósito, já estou fazendo uma lista das coisas que, por não serem sabidas por mim, enchem-me de profunda, genuína e, claro, boba alegria. A lista é encabeçada pelo fato de eu não saber a diferença entre um meio-campista e um zagueiro. Quase vou ao delírio ao ouvir algum colega jornalista do rádio falando em tom solene sobre essas duas palavras. Mas essa alegria não se compara à que sinto por não saber nadinha sobre a vida amorosa de Ivete Sangalo ou sobre o último affair de Reinaldo Gianechinni. Não saber nada sobre a vida particular dos artistas me dá uma felicidade difícil de descrever, embora eu nada tenha contra os que sabem.
Um dia desses, eu, que não fumo e não consumo produtos proibidos (tomo apenas vinho, em quantidades bastante razoáveis, devo admitir), quase tive uma overdose de felicidade ao ver que eu não sabia coisíssima nenhuma sobre a Ilha de Caras. Enquanto aguardava minha vez na sala de espera de um consultório médico, fui invadido por uma sensação de bem-estar e gratidão por não ter a mais remota idéia de onde fica essa tal ilha e sobre quem são aqueles que a visitam. Vagamente, relacionei a ilha com a revista homônima. Como ignoro por completo como seja de fato essa distinta publicação, a alegria foi dupla. Não saber pode ser uma delícia.
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