quarta-feira, 1 de julho de 2009

Um coração que lê

A fase é dos poetas. Tenho lido os brasileiros, os portugueses e alguns ingleses. Julguei que fosse por falta de tempo essa minha opção pela mensagem condensada e direta da poesia. Mas a causa parece mais profunda. Melhor seria dizer que esta é a fase em que os meus olhos estão guiados pelo coração. E este tem sido guiado pela idéia de que afinal não vale a pena ler senão aquilo que toca a alma, pois nada além disso resta na mente após a leitura. Talvez nem seja uma idéia. É mais provável que seja um sentimento. Melhor assim. O mais completo produto do raciocínio, pela medida atual da minha interioridade, não vale uma linha que fale ao sentimento.
Bem sei que os racionalistas dirão que deixar-me guiar pelo coração é como escolher andar com os olhos vendados num gramado traiçoeiramente aconchegante situado à beira do abismo. Que seja. Antes isso que pairar racionalmente sobre o chão, sem nunca descer para tocá-lo. Se fosse bom permanecer sempre nas alturas, os pássaros não teriam sido criados de um modo que lhes exige descer à terra para descansar e se alimentar. Não há ninhos nas nuvens, mas nas árvores. Que eu fique então no chão dos sentimentos ou, no máximo, nas árvores feitas de idéias simples e deixe de lado as alturas do pensar. Estou em bom lugar aqui embaixo.

1 comentários:

Letícia disse...

Fiquei feliz ao ver que você havia escrito. Já faz algum tempo. Me acostumei a ler seus textos, Márcio. E concordo com você. Ler o que nos toca o coração e sentir a vida. Há tempos de pesquisa e de sermos mais científicos. Mas há também este tempo de sentir e sermos mais humanos. Fazer como os pássaros e voltar às raízes para viver mais. E os racionalistas, quando sozinhos, choram e chamam por Deus.

Um abraço, Márcio.