sexta-feira, 29 de maio de 2009

O verde do céu e o vermelho da grama

Lendo as notícias do dia
Essa mania de realismo, além de ingênua, é terrivelmente aborrecida. Os sacerdotes desse credo, com o seu sentido de superioridade, querem nos fazer mastigar fatos como se o sabor deles fosse único. Ignoram, ou fingem ignorar, que o gosto depende do ponto de vista e dos valores de quem degusta.
O romantismo e seus filhos pródigos, o Simbolismo e o Surrealismo, apesar de seus excessos, tiveram a vantagem de nos permitir escapar a essa ingenuidade. Eles retiraram nossa imaginação dos sótãos em que a guardamos e a empurraram para a luz do dia, poupando-nos da loucura que vem do excesso de lucidez.
Agora que a rebeldia romântica saiu das manchetes, é urgente que a mídia se empenhe em desencarcerar de novo a liberdade. Basta de jornais, revistas, TVs e rádios que só nos dizem o que o mundo é. Precisamos de meios e profissionais da comunicação que possam nos conectar com o que ainda não existe, seja na poesia ou na política.
Há algo de alentador em ler que a grama é vermelha e o céu é verde e que entre ambos voa o pássaro falante da liberdade, recitando versos para o vento. Mas essa derrubada de fronteiras tem seu preço. Ela é o ponto final da razão que questiona a si mesma com o máximo rigor, até descobrir que a realidade, afinal, é só a ficção mais influente.

2 comentários:

Lia Noronha disse...

Marcio: a cruel realidade anda mesmo fazendo estragos em nossos sonhos mais azuis...amei td...inspiradíssimo!!!
Abraços d eum feliz fim de semana pra vc.

Fernanda Rocha Mesquita disse...

agora mesmo estou a preparar um texto com fotos sobre uma visao pouco simpatica que tive duranta a minha viagem por portugal, nas minhas ferias... me impressiona a passividade das pessoas diante e dos governos perante atitudes, que pretendem proclamar liberdade, roubando o prazer dos outros de olhar coisas que poderiam ser bonitas.