domingo, 10 de maio de 2009

O ciclo da vida num pôr do sol


Um bazar que vende lirismo
Já escolhi o bazar ao qual darei preferência ao comprar aquilo de que vier a precisar. Não me lembro do nome desse pequeno estabelecimento, pois, andando apressado, nem tive tempo de ver a sua placa. Sei que fica próximo ao centro da cidade e que se parece com todos os outros despretensiosos bazares do mundo, a não ser por um detalhe crucial: na tarde de sexta-feira em que passei por ele, com o sol já ameaçando morrer atrás dos nossos morros, uma pequena caixa de som trazia, em volume discreto, como se anunciasse a hora de fechar, os acordes iniciais de "Cycles", gravada em 1968 por Frank Sinatra.
Parei para ouvir, correndo o risco de ser tomado por desocupado. A música em geral tem um estranho poder sobre mim, que é forte ao ponto de me fazer perder a noção do tempo. Fiquei alguns minutos na porta da lojinha, mas foi como se estivesse ali há horas. Terminada a canção, eu já havia decidido que aquele será, de agora em diante, o meu ponto preferencial de compras, sejam quais forem os produtos que ele coloque à venda. Um bazar que convoca Frank Sinatra para fazer fundo musical para o pôr do sol num fim de tarde dourado de outono há de ter algo de diferente a oferecer.
***
Passadas várias horas, letra e música, compostas por Gayle Caldwell, continuam na minha memória de modo tão vivo quanto naquele dia em que as ouvi pela primeira vez. Não resisto a transcrever abaixo alguns trechos que eu, um desajeitadíssimo cantor de chuveiro, costumava cantarolar na adolescência. (Um clip da canção com Sinatra, acompanhado de uma orquestração bem ao gosto dos anos 60, pode ser visto aqui):


So I’m down and so I’m out
But so are many others
(...)
Life is like the seasons
After winter comes the spring
So I’ll keep this smile awhile
And see what tomorrow brings
(...)
There isn’t much that I have learned
Through all my foolish years
Except that life keeps runnin’ in cycles
First there’s laughter, then those tears

Ou, no meu português sem brilho poético:

Então, estou tão para baixo e por fora
Mas muitos outros estão assim também.
(...)
A vida é semelhante às estações.
Depois do inverno vem a primavera.
Então, vou manter esse sorriso por um instante
E ver o que traz amanhã
(...)
Não aprendi muito
Em todos estes meus tolos anos,
A não ser que a vida corre em círculos.
Primeiro há riso, e então vêm as lágrimas.

1 comentários:

Letícia disse...

Devo ser desocupada, Márcio. Sou do tipo de pessoa que anda por aí e pára quando ouve uma música que me faça sentir algo que me leve longe... e fico divagando no meio do "passeio público", como diria o Buarque. Sinatra é uma voz que me faz lembrar meu pai e minha infância. Eu assistia aqueles musicais e era sempre tão perfeito. Ouço a música que você indicou e sinto que "It's worthy living".