terça-feira, 26 de maio de 2009

Limonada ao meio dia: uma reflexão sobre a bisbilhotice

Acerca de pássaros, jardins e bolas de gude
Não sou do tipo que repousa após o almoço. Minha sesta é preenchida com atividades diferentes das que realizo no dia a dia. Evito, por exemplo, leituras e telas de computador, que são cerebrais demais para um pequeno intervalo. Dou preferência aos hábitos simples, mas nem essa simplicidade tem sido capaz de espantar os curiosos de plantão. Ah, os curiosos... Até quando, enfim, haverão de abusar da minha paciência? Por quanto tempo ainda terei de suportar sua intromissão indevida, eu que deixo em paz a vida alheia?
Uma vizinha implicou com o meu agradável hábito de chutar bolas na parede do escritório após o almoço. Tive a paciência de lhe explicar que aquela era uma forma de aliviar as energias e retruquei, quando ela disse que futebol era coisa para campos, que eu não jogava futebol e sim bola, o que é, ora bolas, algo muito diferente. Numa das cidades onde atuei profissionalmente, fui alvo dos comentários mordazes de um lojista que se armou de gravidade para dizer que um sujeito adulto não deveria arbitrar jogos de bola de gude.
É grande a lista das incompreensões de que tenho sido vítima. Já me estranharam o hábito, que cultivo com prazer, de colecionar tatus-bolinha e juntar folhas secas, que guardo com a devida classificação científica. Chegaram ao cúmulo, e não faz muito tempo, de me censurar o gosto por empinar pipas na companhia de dois garotos que reciclam lixo nas ruas. Dou de ombros. Estamos numa Democracia. Ninguém tem nada com a minha meia hora de almoço, desde que eu a empregue sem violar o ordenamento jurídico.
Nunca encontrei simpatia para meus hábitos de sesta, salvo da parte de um tipo popular de uma das cidades em que trabalho. Conhecido pelo seu gosto etílico e inofensivo como uma borboleta, ele costuma me encontrar no jardim da praça ao meio dia e meia. Numa das primeiras vezes em que lá estive, vendo-me reclinado na grama para observar um magnífico casal de sanhaços, ele se aproximou, cambaleante, e quis saber que bebida eu andava tomando. Feliz com o interesse, respondi de pronto:
— Eu tomo limonada. É servido?

3 comentários:

Biba disse...

Oie, gostei de sua reflexão sobre a bisbilhotice. Nunca estamos livres dela, não é? Eu também deixo o mundo alheio pra lá, que me importa o que o vizinho faz? O colega? Adorei o texto.

beijo
carpe diem

Lia Noronha disse...

Muito pertinente...esse questionamento...sobre ficar na sua...usando o seu tempo como bem entender...mas muita gente não respeita...querem palpitar...não d~e ouvidos!!!
Abraços carinhosos pra ti ...e continue cuidando do jardim da sua vida...pra atrair as mais belas borboletas da imaginação!!!

DÉBORA disse...

A gente ouve cada uma por aí. Bisbilhotar a vida dos outros virou quase um esporte, beirando a uma doença. O BBB agradece!
Ótimo post, como sempre!
Abraços