quinta-feira, 9 de abril de 2009

Vita Brevis

Uma nota de outono um tanto quanto desesperadora
Meus cabelos devem estar embranquecendo mais rápido do que eu imaginava. É a única explicação que encontro para a mudança do tratamento que venho recebendo em lugares públicos. Já se foi o tempo em que nas lojas, consultórios e restaurantes os atendentes, secretárias e garçons perguntavam "O que o moço deseja?". Agora dizem "O que o Sr. quer?", com um acento no Sr. que não deixa dúvidas quanto à passagem do tempo. Começo a ser olhado com aquele olhar que se dispensa às pessoas respeitáveis.
Não tenho nada contra os cabelos brancos e estou bem com a idéia de chegar aos 37 com quase nenhum fio de cabelo preto na cabeça. E não tenho medo das responsabilidades que os anos nos colocam sobre os ombros. Mas, com o devido respeito que devo às pessoas respeitáveis, estou em pânico com a idéia de ser respeitável. O que vai ser de minha opção preferencial pela criancisse se atendentes, secretárias e garçons insistirem em me tratar como a um senhor? Onde eu vou botar a criança que mora em mim?
***
Já começo, aterrorizado, a me preocupar com a possibilidade de não poder usar em público, sem chamar a atenção, objetos inúteis absolutamente imprescindíveis à minha saúde psíquica. Listo aqui alguns deles, a fim de que os amigos deste blogue percebam minha aflição:
* O ioiô da Coca-Colca série especial que ganhei quando tinha 9 anos. (Ele é vermelho e branco, muito bonito).
* Meu álbum de figuras clássicas de aviação concluído em 1980. (Deu um trabalho danado fazê-lo, porque as figurinhas não chegavam ao interior).
* Um pião com corda que ganhei de minha avó no final de 1978 por ter tirado "A" em todas as disciplinas.
* Minha coleção de revistas "Asterix" e meus álbuns do "Príncipe Valente" (Faltam dois exemplares antigos do "Asterix", que não sei onde foram parar).
* Um emblema do "Batman" que enfeitava meu quarto.
* Minhas 17 bolas de gude brancas e azuis. (Todas foram obtidas em disputas seríssimas em que me empenhei).
* Minha coleção de folhas secas emolduradas. (Estão meio amareladas, mas ainda bem visíveis).

4 comentários:

mariza lourenço disse...

ah, Professor, quanta maldade com o menino Márcio, né mesmo?
ora! tome tento! basta olhar para sua foto, aí ao lado, que se poderá notar um moço com cara de quem acabou de sair da "facul".

quer ficar animado? a primeira vez em que fui chamada de senhora eu estava de macacão e ainda fazia faculdade de direito. quer ficar mais animado ainda? prometo que todas as vezes em que me dirigir à sua ilustre pessoa chama-lo-ei de 'brother'...

no entanto, mais importante que tudo é não abrir mão dessa disposição em permanecer jovem de alma. colecionar brinquedos, álbuns e lembranças boas é essencial. palavra de quem coleciona lápis de cor e não se importa nem um pouco em usar durante as audiências uma caneta especial, com cabeça de tigre na ponta... hihihi.

valeu, teacher. *;)

beijo.

Juracy Ribeiro disse...

Márcio, quando alguém te chamar de senhor, principalmente aluno, diga: olha, se me chamar de senhor, vou te chamar de escravo... rs rs rs
Sempre faço isso... risos...

Petê Rissatti disse...

Ah Márcio, sei bem como é isso. E olha que conto apenas com 29 anos, mas os fios brancos já me assombram. Além do estigma do "senhor" em lojas e afins. Eu sempre digo: "Senhor tá no céu", mesmo que eu não acredite nesse céu, nem nesse Senhor.
De qualquer forma, não deixe reprimirem sua criança, ela é indispensável para nós, seres da escrita. Nossa fantasia vem de nossas crianças, disso não tenho dúvida.
Abraço

Fernanda Rocha Mesquita disse...

o ser respeitavel ou até senhor nao significa em nada que tenha que deixar de ser a criança que existe em si... pelo contrario tem o dever de continuar a ser devido á experiencia que adquiriu com o passar dos anos