terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

O lugar onde o tempo pára para descansar


Filosofia arquitetônica

Consta que em Minas nenhum projeto é levado a sério antes de o carnaval terminar. Como o carnaval termina hoje, não terei justificativa para adiar as providências necessárias para iniciar a construção da casa em que pretendo morar com os três melhores amigos que a vida me concedeu. E tenho pressa, pois algo me diz que dentro de alguns anos os três estarão cuidando da vida em suas próprias casas, com as respectivas famílias.
Encomendei a planta a um arquiteto amigo, que assumiu o gentil compromisso de desenvolvê-la segundo meus palpites. Tenho apenas duas exigências. Uma é que, mesmo na cidade, minha casa deve pelo menos lembrar as casas de campo da minha infância. A outra, complemento da primeira, é que ela tenha varanda, daquele tipo espaçoso onde se podem colocar flores, poltronas de vime, almofadas, rede e, quando for o tempo, cadeiras de balanço.
Posso abrir mão do estilo de casa de campo, se ele não for tecnicamente viável ou se constituir um atentado estético à cidade. Mas nem sequer cogito a idéia de que minha futura casa não tenha varanda. Pois varandas são o meu espaço predileto em qualquer habitação, seja pequena ou grande, simples ou sofisticada, do campo ou da cidade. Não se trata de um gostar por gostar. É questão mais profunda, de natureza filosófica.
Acredito que cada cômodo contenha um ensinamento. O quarto nos lembra que temos necessidade de descansar, repor energias e nos sentirmos aconchegados nas noites de tempestade. Cozinha e banheiro nos lembram que somos animais, afinal de contas. Já a sala de visitas é a lembrança de que não somos lobos solitários e sim animais sociais, que precisam uns dos outros para sobreviver em civilização.
Todos os cômodos são, pois, importantes, na medida em que cumprem uma finalidade na organização da vida. É por isso que a varanda constitui para mim uma exigência incontornável. No meu modesto entender, o máximo de sabedoria arquitetônica encontra-se na varanda. Ela é a fronteira entre o dentro e o fora da casa, o que a diferencia de todos os cômodos internos e do quintal e de outros espaços externos.
A meio caminho entre interior e exterior, a varanda é um estímulo a olhar, ao mesmo tempo, para dentro e para fora de nós. Sobretudo, ela me encanta por ser um convite ao devaneio, que é dormir de olhos abertos para sonhar uma realidade diferente. Se não fosse o bastante, por entre suas cadeiras, flores e almofadas, circula um ar diferente, o ar de varanda, que faz o tempo passar mais tranquilo, como se ele parasse um instante para descansar.
É preciso dizer mais alguma coisa?

3 comentários:

mariza lourenço disse...

gostar do lugar onde se mora é essencial, porque é lá, nesse ninho, que os nossos laços afetivos se desenvolvem plenamente, com aqueles a quem amamos e conoscos mesmos. cada um tem seu canto preferido, aquele que lhe permite divagar, sonhar, contar estrelas, planejar viagens, planejar a vida. o bom de se construir um ninho é sabê-lo sobretudo seu, em qualquer circunstância. especialmente aquelas em que, quando se viaja para qualquer lugar, e a despeito do prazer que a aventura possa proporcionar, a felicidade maior, é fazer o caminho de volta. é avistar a casa que se ama, a sua construção, e a porta aberta, como um corpo acolhedor. mais que um corpo, um enorme coração.
todas as vezes em que deixo minha casa, partes de mim continuam habitando os cômodos e parte dela segue comigo, como um porto seguro, uma certeza concreta de que sempre terei para onde voltar.

Márcio, desejo de coração que a sua casa lhe traga, e aos meninos, muita felicidade, que a sua varanda, lugar tão especial para você, acolha amorosamente todos os seus projetos, as suas esperanças, e as suas melhores expectativas.

porque você merece.

(tá, eu sei que nada pecisava ser dito, mas conter a língua dentro da boca sempre foi um defeito muito grande desta amiga... hihihi).

abraços.

Letícia disse...

Márcio,

Não sumi. Embora não tenha vindo comentar seus textos. Não gosto da folia do carnaval. Meu filho adoeceu e meu carnaval foi remédio e termômetro. Mas estou aqui e li seu texto mascarado de casa, mas na verdade, é um texto que fala sobre a necessidade que nós temos de proteção. Nossa casa representa isso. E ela pode ser a mais modesta construção, mas é o lugar onde vivemos nossas tempestades e nossa paz também. Espero que seu projeto se concretize. Que a casa tenha uma grande varanda. Eu também gosto de varandas. Minha casa tem varanda e é bem comum se colocar grades no "terraço" (Varanda por aqui é terraço). Mas a minha não tem grades. Não é tão grande, mas é o espaço que preciso. E sobre a cadeira de balanço, eu tenho uma. E quando vem gente aqui em casa, é a maior briga pra sentar na cadeira. É como voltar à infância.

Beijos.

Anônimo disse...

A casa é sinônimo de proteção, aconchego e liberdade.
Que de sua varanda, a distância entre o real e o sonho se anule e, te conceda a alegria de curtir todos os bons momentos ao lado de sua família.