segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Homo domesticus

Estou pensando em sugerir à prefeitura de minha cidade que construa um monumento à capacidade de trabalho da mulher. Não se trata de elogio de cortesia, mas da mais pura justiça. Explico-me. No fim de semana, sem a secretária doméstica da casa, que se demitiu, eu e o Sr. Pedro tivemos que nos desdobrar. Enquanto ele arrumava seu material escolar e sua própria cama, o que é bastante razoável para seus 14 anos, eu fui atacar de frente a varredura da casa e — Deus me proteja disso! — a arrumação da cozinha. Não direi que foi um esforço contra a sujeira e a bagunça acumuladas. Foi uma batalha, uma guerrilha, uma guerra mundial!
Houve momentos em que achei que ia sucumbir ao peso da tarefa. Um deles ocorreu quando tive de limpar uma panela cheia de óleo, remanescente de uma pipoca feita à moda antiga algumas horas antes. Entrei em desespero quando percebi que aquele líquido viscoso não se desagarrava de modo algum do metal, por mais que eu passasse o sabão. Para complicar, passei apertos indizíveis ao tentar achar o pó de café, que por equívoco eu mesmo, já em desespero de causa, pusera na geladeira no dia anterior. Se não fosse o bastante, eu me atrapalhei no momento de varrer a poeira acumulada no chão. Mas me defendo, pois a culpa não foi minha. Não me explicaram nunca se a varredura é feita para dentro ou fora da casa. Quando me dei conta, eu estava varrendo em várias direções diferentes, criando pequenos montes de sujeira dos quais não me lembrava depois.
Só não desisti porque meu pavor de sujeira e bagunça (já basta a confusão que faço com minhas roupas) é ainda maior do que minha falta de aptidão para as lides domésticas.
Mas onde entra a capacidade feminina de trabalho nessa história? Essa é a parte interessante. Comentei com duas mulheres as agruras pelas quais passei. E não é que elas riram e consideraram muito pequenos meus motivos de desespero doméstico? Conversando com outras mulheres, cheguei à conclusão de que, para elas, trabalhar fora e ainda gerenciar os pequenos (para mim, terríveis) detalhes da casa é coisa corriqueira. Sem esquecer que elas também dão conta dos detalhes dos filhos e maridos/companheiros. De fato, isso não é pouco. Ou melhor, é muito. Merece mesmo uma estátua na praça.

3 comentários:

Clea Pinheiro disse...

Imagine três filhas pequenas, oito horas diárias de trabalho, faculdade de direito... imagine estudar balançando um carrinho de bebê ou amamentando (rrss...) lhe garanto: é ótimo pra desenvolver a flexibilidade e a capacidade de administrar o tempo. Depois disso, nada mais o assusta. Exceto a atitude rude de algumas pessoas, quase sempre dos próprios maridos.

Clea Pinheiro disse...

Esqueci-me de agradecer por seu desprendimento em escrever esta matéria. Foi uma satisfação lê-la. Obrigada.

Anônimo disse...

Pelo que me consta não há na região cursos para "donos de casa", mas uma dica para desgrudar óleo e leite de algumas vasilhas é colocar um pouco de água e aquecer por alguns segundos, passar uma esponja com detergente e depois enxaguar. OK? As outras "dificuldades" do dia-a-dia você vai achando soluções práticas para reslovê-las.