sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Leituras: Sobre a Natureza das Coisas, de Lucrécio

Enfim, porque um tamanho amor da vida
Tantos sustos nos perigos nos inspira?
Tem chegado por certo o termo à vida:
Nada o pode mudar; partir é força.
Ora vivendo mais, no mundo vive-se:
Nem se forjam p'ra nós novos prazeres,
Mas se o que se deseja nos falece,
Parece avantajar-se aos bens que temos,
E se nos chega à mão, desejam-se outros.
Desta arte nos tem sempre sequiosos
Uma sede de vida, a que se ajunta
O incerto futuro, a dúbia sorte,
Enfim, que a eterna idade nos destina.
Nem prolongando a vida cerceamos
A duração da morte, nem podemos
Afastá-la de nós para mais longe.
Inda que muitos séculos vivêssemos,
Sempre uma eterna morte nos esperara:
Nem há de estar por menos tempo morto
O que o curso da vida ontem fechara,
Que aquele que morreu há longos anos.
Tito Lucrécio Caro foi um poeta e filósofo latino que viveu no século I a. C. O trecho acima, extraído do poema De Rerum Natura (Sobre a Natureza das Coisas), foi traduzido pelo português Agostinho da Silva.

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