sábado, 3 de abril de 2010

Pedro

O fato é que a educação e o ambiente familiar nem sempre nos permitem, por mais que a queiramos, uma previsão segura sobre o que um recém nascido vai se tornar em termos de aparência, temperamento, inclinações, idiossincrasias, hábitos e filosofia de vida. Foi assim com Pedro, que amanhã chega aos 16 anos. Quando ele nasceu, divisei em sua expressão uma vaga semelhança comigo, mas não fui capaz de prever que seu rosto, sério e pouco expansivo, se transformaria numa nova versão do meu, com uma semelhança que continua a me surpreender e que permite a qualquer pessoa que me conhece identificar nele o meu filho. Avesso a toda sorte de doutrinação em matéria de gosto estético, também não imaginei que Pedro, como eu, iria gostar de rock, folk, blues e MPB; que fosse se transformar em um leitor entusiasmado das histórias de fantasia; que iria se tornar um amante dos passeios na natureza e de tantas outras preferências que formam o meu modo de ser. As semelhanças constituem, no entanto, apenas um lado da moeda. O outro é formado pelas diferenças, que são, elas também, surpreendentes. Ao contrário de mim, Pedro é versado em futebol e artes marciais. Eu, que não sou dado à natação, espanto-me ao pensar como ele pode ter adquirido a familiaridade que demonstra diante da água e na sua desenvoltura no caiaque, esporte que desejo aprender tendo-o como mestre. (A foto acima, feita num dos rios da região, mostra-o em ação). E ainda mais espantado fico ao ver a força de suas convicções numa idade em que eu ainda tateava em busca dos princípios que viria a juntar para formar a minha personalidade moral. Quando Pedro decidiu vir morar comigo, essas e muitas outras diferenças tornaram-se uma possibilidade única de enriquecimento mútuo. Somadas ao prazer das semelhanças, elas formam um convívio que se faz a cada dia mais gratificante. Ao papel de pai, somou-se o de amigo e o de admirador de seu coração puro, seus modos simples e sua generosidade natural. E é sobre essa amizade e essa admiração que tenho construído com ele uma relação que coloco entre as mais gratificantes que já me ocorreram. O que ficou dito me permite concluir que o aniversário é de Pedro, mas o presente é também meu, que tenho a oportunidade de uma convivência única, que nos faz tanto mais próximos quanto mais passam os dias. Pelo que me consta, nem eu nem Pedro, ambos portadores da timidez típica dos mineiros, temos jeito e familiaridade com declarações de amor. De qualquer modo, encerro esta ao meu modo um tanto atabalhoado, com os versos da velha canção de Raul Seixas que temos ouvido juntos e que espero continuar ouvindo em sua companhia pelos anos que virão: "Pedro, onde você vai, eu também vou/ Pois tudo acaba onde começou".

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