terça-feira, 14 de abril de 2009

A vida real que nasce da literatura

Os pequenos shakespeareanos do interior de Minas

Ninguém poderá jamais aperfeiçoar-se, se não tiver o mundo como mestre.
A experiência se adquire na prática (Shakespeare).

Há mais pontes entre a literatura e a busca prática de um mundo melhor do que supunha a minha vã filosofia. Professor de literatura inglesa, eu pensava que a compreensão do talento de um gigante do porte de Shakespeare em geral só estaria acessível a quem já possui alguma babagem cultural prévia. Na pequena São Francisco de Paula, no Centro-Oeste de Minas, terra simpática e acolhedora de meus avós, um projeto social veio desmentir com brilhantismo a minha suposição.
Lá, desde 2005, um grupo de jovens vem aprendendo noções de arte e cidadania com a ajuda da obra do escritor inglês, que estudam e colocam em cena. O projeto é fruto do idealismo de Aimara Resende, ex-professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e de outras instituições, doutora em literatura pela USP, tradutora e especialista de renome internacional na obra de Shakespeare. Aposentada do magistério, Aimara e o marido compraram no município uma propriedade rural.
Mas a paixão pelo gigante inglês falou mais alto e transformou a tranquilidade da aposentadoria numa irrequieta militância literária e social. Surgiu então o projeto, que, sem qualquer conotação político-partidária ou ideológica, tem mostrado a garotos e garotas de 8 a 14 anos, a maioria filha de empregados de propriedades rurais, a riqueza da obra de Shakespeare. Os meninos já encenaram trechos de "Noite de Reis" e se preparam para fazer o mesmo com "Sonho de Uma Noite de Verão".
Estudando as peças, a trupe alarga seus horizontes culturais. Os pequenos shakespeareanos de São Francisco de Paula já aprenderam a ouvir música clássica e a apreciar as características de boas peças de teatro e bons livros. Além disso, treinam a escrita e a expressão oral, bem como a criatividade. De modo sutil, enquanto estudam eles são levados a desenvolver noções de higiene pessoal, disciplina, respeito e solidariedade. Penso que Shakespeare teria gostado de ver esse uso de suas peças.

4 comentários:

Anônimo disse...

Márcio,
Bela homenagem e que esta sirva de inspiração para muitos.
É bom ver que pessoas idealistas como D.Aimara estão semeando as idéias da filosofia humanística de Shakespeare. E, o melhor disso tudo é que ela já está colhendo os frutos cultivados com tanto amor!

mariza lourenço disse...

Márcio,

projetos sociais como os da Dra. Aimara Resende, seguem uma tendência desencadeada (graças a deus) por outros idealistas, a maioria deles absolutamente desconhecida, que trabalham pacientemente e com amor para a construção de uma sociedade melhor e um mundo acessível a todo aquele que tem fome de aprender. essa é a verdadeira prática cidadã.

e você, ao disponibilizar aos seus leitores historias bonitas e comoventes como essa, também nos presta um grande serviço. o de nos abrir os olhos para um mundo que está além de uma máquina, cujo único compromisso é o de nos enlaçar virtualmente.

é esse o caminho das pedras.

um abraço.

mariza lourenço disse...

errata: onde está escrito historias, leia histórias.

Juracy Ribeiro disse...

Eu me rendo quando leio algo assim.