domingo, 5 de abril de 2009

The Sunday Sessions


Uma manhã com as big bands
A manhã foi dedicada ao jazz, em especial às Big Bands. Fui à minha coleção de bolachas de vinil e voltei de lá com alguns discos da série Jazz History, da Metro. Passei horas de puro swing na companhia de Woody Herman, Johnny Hodges, Count Baseie, Dizzy Gillespie e respectivas orquestras. Entre os hits que a vitrola disparou na manhã azul estavam "Moten Stomp", "Indiana" e "Blue Lou".
Já no fim da manhã, antes de ir trabalhar (a semana deste plantador de abobrinhas tem início no domingo), peguei outra bolacha da série, dedicada a Duke Ellington, e disparei uma sucessão de pequenas jóias, como "Jack The Bear", "In a Mellow Tone", "Summertime", "My Funny Valentine", "Cotton Tail", "Deep Purple" e a impagável "Creole Love Call", que, pelo tom debochado, já escolhi como a música do meu funeral.
Se Duke Ellington não existisse, deveria ser inventado. Poucas vezes foi dado a alguém produzir tanto e com tanta qualidade na história da arte. Fiquei tão entusiasmado com aquela sequência de clássicos do som trepidante dos anos 30 e 40, que quase criei coragem para tirar uma vassoura para dançar.


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Imagens dos anos dourados
Num domingo inspirado, descobri por acaso um site de ilustrações de Jim Flora, outra de minhas fixações. Flora é o cartunista norte-americano mais famoso dos anos 50. Seu trabalho, marcado por uma mistura peculiaríssima de traço moderno com cultura pop, ficou conhecidíssimo em capas de discos (geralmente de jazz), cartazes e outras ilustrações.
As "brincadeiras" de Jim hoje são vistas pela crítica como biscoito fino em se tratando de arte. No site oficial dedicado à obra do ilustrador, há uma convidativa viagem a um mundo de cores e formas que faz qualquer um — até aqueles que, como eu, nasceram depois — se sentir em casa na presença de imagens que só os anos 50 poderiam ter produzido.
Descobri Flora num natal da infância, ao ganhar um boneco que veio dentro de uma caixa com a estampa de "Manhattan Blue" (1954), uma das criações do ilustrador americano (reproduzida acima). Fiquei tão absorto naquele desenho colorido e cheio de formas angulosas, que esqueci o boneco. Nos anos seguintes, não descansei até encontrar outras ilustrações que Flora fez para a capa de álbuns clássicos de jazz da RCA e da Columbia Records.

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Uma noite de terror, com pipoca e Coca-Cola
A noite de domingo será dedicada ao cinema mudo. Eu e minha nostalgia vamos de mãos dadas à sala de TV para assistir, com o balde de pipoca à mão, a "Nosferatu" (1922), de F. W. Murnau, com Max Schreck, baseado no romance "Drácula", de Bram Stocker, e ao "Gabinete do Dr. Caligari" (1919), de Robert Wiene, com Werner Kraub.
Ambos os filmes são obras clássicas do Expressionismo Alemão. Tenho dificuldade de dizer de qual dois dois gosto mais. Em ambos há um magistral jogo de luz e sombra e uma exploração genial da presença dos autores, o que me leva a pensar que certas qualidade são exclusivas dos filmes mudos e não foram atingidas no cinema falado.
Enquanto faço os preparativos para a minha noite de terror, vou pensando com os meus botões que a Ditadura do Lançamento, ao ofuscar todas as produções cinematográficas com mais de 2 meses, acabou por sepultar incontáveis tesouros. É urgente desenterrá-los. Ninguém faz jus ao nome de amante do cinema antes de conhecer essas eloquentes belezas mudas.

4 comentários:

mariza lourenço disse...

adoro jazz!
Jim Flora é bárbaro!
mas eu quero mesmo falar é dessa noite de terror especialíssima que o senhor vai ter, assistindo ao filme inaugural do cinema expressionista alemão (e de terror). ambos os filmes são excelentes e, embora, ainda prefira Nosferatu, preciso admitir que O Gabinete do Dr. Caligari é o que mais provoca arrepios de medo. acho que, ao longo do tempo, Nosferatu, que já carregava uma certa aura romântica, e com suas inúmeras refilmagens acabou emprestando à personagem uma roupagem muito próxima de um vampiro bonitão, não me provoca mais medo. enfim, gosto do Nosferatu em preto e branco, assustador. o que me lembra que talvez seja hora de rever Fritz Lang.
parabéns pelas escolhas, Professor. muita gente me acha doida por reverenciar filmes mudos, preto e branco e europeus, sobretudo.
e recomendo a leitura da revista Zunái que na seção especiais tem matérias bastante interessantes acerca dessa arte que eu tanto amo.

boa noite, boa diversão.

Emiliana Carvalho disse...

Estou quase sem palavras...

Márcio,
Obrigada pelas dicas que me destes em meu blog e, de certa forma, no teu também. São preciosas.
Para lhe ser sincera não "conheço" Eduardo Galeano, meu primeiro "contato" com o escritor foi através do VER, que por sua vez me foi indicado pelo fotógrafo e amigo, Marcos Cesário. Confesso que gostei do pouco que li. Certamente pretendo seguir suas orientações, afinal, respeito e muito a Experiência.

Uma ótima semana pra você.

Biba disse...

Como professora de Cinema, exibo em sala de aula, no telão, os dois filmes que você assistiu novamente. Para os alunos é bem difícil, apesar de eu contextualizar com o período histórico vivido pela Alemanha à época. Adorei saber que você é fã do expressionismo alemão, que gosta de jazz e quase tirou uma vassoura para dançar. Achei lindo!
Beijos,
Carpe Diem!!!

Letícia disse...

E o domigo deve ter sido bom. Ouvindo jazz, dançando com vassouras e assistir Nosferatu. Eu já vi esse filme. Era bem comum passar no Corujão quando eu tinha uns 12 ou 13 anos. E procurei a música que você escolheu para o seu funeral. Será um funeral e tanto.