terça-feira, 12 de outubro de 2010

Cantar e viver


É de Bashô (1644-1694) o poema abaixo, que faz, na tradução de Manuel Bandeira, a defesa da alegria de viver:

A cigarra... Ouvi:
Nada revela em seu canto
Que ela vai morrer.

Leio Bashô há décadas. Mas não me canso de admirar o fato de que os versos do mestre japonês citados acima contêm, na brevidade rigorosa do haicai, a sugestão de toda uma filosofia de vida: a cigarra canta inconsciente do fim para o qual caminha; nós, humanos, não devemos deixar de cantar pelo fato de termos consciência da finitude. As flores do ipê não duram mais do que alguns dias. Isso não as faz menos belas e dignas de serem apreciadas. Boa é a vida vivida sem o medo da morte.

3 comentários:

Fernanda Rocha Mesquita disse...

E' verdade o tempo de vida nao significa que a vida nao tenha importancia ou seja vivida com intensidade. Ao ler o seu texto lembrei-me das curta vida das borboletas e o quanto atarefada e importante e'.

Sueli Maia (Mai) disse...

Sim - Cantar e Viver...Inobstante à efemeridade da vida. E para além de toda beleza contida no haikai e em teu texto, há que vivermos buscando sentido, e continuarmos cantando.
.

"...quando eu canto é para aliviar, meu pranto...Canto para anunciar o dia, canto para aliviar a noite...E a cigarra quando canta morre e a madeira quando morre canta..."

grande e solidário abraço

Anônimo disse...

A finitude é certa. E nesse intervalo há de se fazer o melhor que se pode.

Um abraço com carinho