terça-feira, 6 de outubro de 2009

Sobre bosques, mulheres e suas fantasias

Estou convencido de que nós, adultos, precisamos mais do que as crianças aprender a valorizar a fantasia contida na literatura e nas demais artes. Não tenho uma teoria para explicar essa convicção, que não passa da observação pessoal de fatos e de algumas conclusões extraídas deles. Mas não acredito estar muito longe da realidade quando digo isso. Os relacionamentos humanos, por exemplo, são um campo em que a presença ou ausência de fantasia faz, parece-me, grande diferença. Um dos estereótipos da cultura ocidental, que resistiu ao movimento de redefinição dos papéis feminino e masculino ao longo das últimas 5 décadas, tem sido o papel do homem como o macho provedor da relação, aquele que obtém meios para a realização dos desejos da parceira.
Esse papel, como se sabe, é mais problemático do que parece, e um dos motivos está na falta de fantasia que ele reserva ao homem. Se não me engano, as mulheres trabalham em duas fases. Na primeira, a da conquista, gostam em geral de ser agradadas, ainda que tenham tomado a iniciativa do relacionamento, de modo que toda a fantasia que se requer do pretendente é a de descobrir-lhes as vontades. Há, porém, uma segunda fase, mais complexa, na qual as mulheres, tendo conquistado a segurança e a estabilidade da relação, mais do que ser conquistadas, desejam ser surpreendidas. Querem alguém que, além de ser digno de admiração no desempenho do papel típico do homem, seja capaz de lhes mostrar uma face não previsível e uma certa capacidade de reinvenção contínua de si mesmos e da relação. E esse querer feminino, desconfio, é tanto maior, quanto mais resolvida pessoal e profissionalmente é a mulher, o que significa que aquelas que podem dispensar o macho protetor e provedor tendem a ser as mais exigentes.
Surge aí o problema, e vem com ele uma necessidade de autocrítica de gênero. Até onde me foi dado ver, grande parte de nós, homens adultos, é francamente incapaz de surpreender as mulheres, ainda que o padrão de exigência delas em relação a surpresas seja adaptado a patamares bastante realistas. Atribuo isso à pobreza da fantasia masculina e à ideia, ainda fortemente arraigada no inconsciente masculino, de que não se deve tentar ser ao mesmo tempo prático e idealista, forte e brando, realista e criativo. O resultado dessa ideia, para ficar só no plano dos relacionamentos, é um descompasso fácil de perceber: mulheres ansiosas por fantasias capazes de colorir a relação, no sentido amplo da palavra "fantasia", e homens perplexos diante de algo que lhes é pedido e que eles nem sequer imaginam onde pode ser alcançado.
Naturalmente, também há mulheres de espírito ultra-prático, inclusive em suas relações afetivas, mas elas constituem, penso, a exceção e não a regra. A grande maioria das mulheres, se não me engano, permanece aberta à fantasia e anseia por ela, enquanto muitos homens — é duro, porém correto, admitir — não têm sequer uma criatividade sexual razoável, o que fica claro na comparação de relatos das fantasias femininas, mais cheias de nuances, e das masculinas, que tendem a ser simplificadas na comparação com as das mulheres. Não acredito que essas diferenças sejam simples decorrência de uma condição natural de gênero. Acreditar nessa "naturalidade" seria como acreditar que as mulheres não podem, em razão de sua constituição psíquica, assumir funções e papéis no mercado de trabalho que antes se pensava serem exclusivamente masculinas. Elas podem e têm, de fato assumido tais papéis e funções, assim como os homens podem e devem enriquecer sua forma de enxergar o mundo.
Neste ponto me lembro dos velhos livros de história infantil, repletos de fantasia, e retomo minha antiga desconfiança em relação à supremacia do realismo em nossa cultura. Deveríamos, nós homens adultos, tentar ler histórias de fantasia junto com os jornais do dia e as revistas da semana. Não se trata de procurar nesses livros sugestões sexuais ou afetivas — isso fica para os adeptos da crítica freudiana — e sim de aprender com eles a humaníssima capacidade, que deve ser tão masculina quanto feminina, de nos reinventar e de reinventar as relações que mantemos com as pessoas de quem gostamos. Para nós, homens, penso que essa abertura à fantasia, antes de ser uma forma de contentar as mulheres, é um modo de tentarmos ser pessoas diferentes, que não se amoldam a papéis fixos e não têm medo de viver todas as experiências que é possível viver nos mais diferentes campos da vida.
Enquanto penso nisso, volta-me à mente um de meus contos de fadas predileto. Trata-se de "Smith, de Wotton Major", de J.R.R. Tolkien. A história, que eu gostaria de ter escrito, fala de uma pequena aldeia em que as fadas e elfos apareciam de quando em vez e, vestidos como homens e mulheres, escolhiam um garoto para receber uma pequena estrela que lhe dava passagem livre para o Reino da Fantasia. Smith, o protagonista, engoliou por acaso a estrela junto com um pedaço de bolo de aniversário. Surgiu-lhe então um brilho peculiar nos olhos que persistiu até a vida adulta. Smith tornou-se ferreiro, profissão em que lidava com alguns dos elementos mais duros da natureza. Essa típica ocupação masculina não lhe impedia de ir, de quando em vez, ao país das fadas e elfos que havia além do bosque, de onde ele voltava revigorado para a realidade. Acho que as pessoas mais interessantes que conheço são as que, como o ferreiro Smith, conseguem colocar fantasia em sua vida cotidiana sem torná-la com isso menos real.
***
Por falar em bosques, terei de arranjar outros para fazer minhas caminhadas. O poder público decidiu vender para reserva legal o parque florestal em que vou regularmente. Eu e Thoreau, meu labrador de 4 meses de idade, teremos de descobrir novas matas na região. Tanto para Thoreau quanto para mim, as caminhadas são essenciais. Tanto quanto eu, ele parece gostar de se embrenhar pelas veredas e, depois de algum tempo, sentar em algum tronco de árvore caído no meio da mata para descansar à sombra e ao som dos pássaros. Na última vez em que caminhamos, dentro de um pequeno bosque municipal, ele parecia fascinado por um grupo de borboletas que voava baixo. Só no final da tarde, depois de várias horas na companhia das árvores, consegui tirá-lo de lá.

1 comentários:

Anônimo disse...

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